Falta pouco mais de uma semana para a 102.ª edição dos Campeonatos Nacionais de Corta-Mato nas vertentes nacionais seniores, sub-23, sub-20, sub-18 e sub-16 (competição no dia 23 de novembro), e também para os nacionais de veteranos (dia 22 de novembro).
Tempo, então para conhecer a pista, as suas características, o que está a ser preparado para que esta edição seja memorável tendo em conta que poucas semanas depois, no dia 14 de dezembro, no mesmo local irá realizar-se o Campeonato da Europa de Corta-Mato. Nesse âmbito estivemos à conversa com o técnico nacional Paulo Murta, que destaca a importância da prova como derradeiro teste para o Europeu. O circuito, de 1500 metros, implantado num parque urbano em Parchal/Lagoa, é descrito como “muito técnico”, com subidas, descidas e curvas constantes, exigindo grande capacidade de adaptação dos atletas. As distâncias e formato serão idênticos às do Europeu, incluindo a estafeta mista.
O regulamento dos Campeonatos Nacionais foi ajustado para evitar excessivas dobragens, o que resultará em provas mais competitivas com a participação de cerca de 80 atletas na elite feminina e sensivelmente 110 na elite masculina. Paulo Murta sublinha que vários atletas, de diferentes escalões, realizaram estágios em altitude, num investimento da Federação Portuguesa de Atletismo, prevendo que a competitividade aumentará tendo em vista os vários candidatos à Seleção Nacional, que entra em estágio dia 30 deste mês.
Eis a entrevista ao técnico nacional de meio-fundo, Paulo Murta:
O que nos pode dizer sobre a pista e o que está a ser preparado para o Campeonato Nacional de Corta-Mato?
O campeonato nacional é no mesmo circuito onde vai decorrer o Campeonato da Europa. Será tudo praticamente idêntico e servirá de um teste evento final. Por isso, o Campeonato Nacional é de extrema importância para se poder verificar o que possa estar menos bem para o Campeonato da Europa.
Será um teste final, portanto?
Certo. O percurso, deste Campeonato da Europa e Campeonato Nacional, é num parque urbano que está a ser construído há cerca de um ano e meio, doi anos; fica situado numa encosta na freguesia de Parchal/Lagoa. Ao ser um parque urbano, apresenta características completamente distintas daquilo que estamos habituados num campeonato nacional e até num Campeonato da Europa de Corta-Mato. É um percurso muito técnico, não é demasiado extenso, tem cerca de 1500 metros de extensão, e a largura andará entre os 3,80 m e 4,20 m em praticamente todo o percurso. Mas é muito sobe e desce, curva para a direita, curva para esquerda, sem zonas de aceleração muito grandes… entenda-se por grandes algo que dure minutos, ali é coisas curtas de segundos.
E quanto a distâncias?
Serão as mesmas distâncias que a Associação Europeia vai utilizar no Campeonato da Europa, idêntica mesmo no número de voltas e distância final. Vamos utilizar tudo idêntico, desde a estafeta aos mais jovens – os sub-20 e os sub-18 competem sobre a mesma distância, em provas separadas, claro – e os seniores e os sub-23 – que estão dentro dos seniores uma vez que não temos possibilidade de fazer um campeonato separado só para os sub-23, ou seja, vão junto das equipas principais e na prova de seniores em virtude de pontuarem também para as suas equipas, o que é muito bom, fazendo que o nível competitivo seja mais alto – mas, como dizia, as distâncias são as mesmas. É o mesmo número de voltas, portanto, vai tudo idêntico. Nós realizamos dois estágios de observação, um no final de setembro e outro está agora a decorrer, em que o objetivo passou por observar a maioria dos 85 atletas que tínhamos referenciados, de acordo com os desempenhos na época, os rankings, ou que foi o campeonato nacional e Europeu na época passada, para selecionarmos 44, que é o máximo que podemos ter na Seleção, tendo em vista o Europeu. E a nossa intenção era que nestes dois momentos de concentração tivéssemos um grande número de atletas. E tivemos, embora não todos, pelo que alguns atletas vão conhecer o circuito pela primeira vez no Campeonato Nacional. Mas o que sentimos, por indicação dos próprios atletas, é cada vez que passavam num determinado sítio sentiam-se mais seguros, mais à vontade. Porque ele é demasiado técnico e cria muitas indecisões.

Ou seja, o campeonato nacional irá beneficiar largamente os atletas que forem chamados a representar Portugal no Europeu.
Sim, sem dúvida. Normalmente onde se realiza o Campeonato da Europa faz-se também o Campeonato Nacional. Isto já aconteceu no passado em Portugal nas edições anteriores que tivemos cá o Campeonato da Europa e penso que não fazia muito sentido nós termos o Campeonato da Europa aqui, em Lagoa, e fazermos o Nacional noutro sítio qualquer. Até porque se apresenta como uma possibilidade de podermos otimizar ao máximo o percurso tendo em conta algumas situações que possam a acontecer ou ser detetadas. E depois para os próprios atletas, nada melhor do que selecionar no próprio percurso idêntico ao que vai ser o europeu. Isto facilita muito, porque há atletas que se adaptam a um determinado percurso e não se adaptam a outro. Muitas vezes o nosso Campeonato Nacional não tem tido caraterísticas muito idênticas ao que vamos apanhar depois nos Europeus, o que depois também se tem refletido nos próprios resultados.

Do ponto de vista logístico, técnico, que desafios surgiram tendo em vista a realização destes Campeonatos Nacionais?
Tivemos de recorrer a uma estratégia de forma a conseguirmos reduzir o número de atletas na principal série para não corrermos o risco de muitas voltas de dobragens, algo que num perímetro de 1500 metros é mais que admissível. Nesse sentido, tentámos criar um regulamento para este campeonato nacional de forma que salvaguardasse o excessivo número de voltas da base. Provavelmente vai acontecer na mesma, mas para um número mais reduzido de atletas. Com este regulamento, que apresenta várias variantes, na prova de elite feminina deveremos ter cerca de 80 atletas e 110 nos masculinos. Isto nesta série A, a elite. Na série B, que se realiza imediatamente antes da série A, utilizaremos o mesmo sistema de pontuação, por séries, em que a classificação final é ordenada de acordo com as melhores marcas e isso definirá os postos de premiação, tanto a nível individual como por equipas. À partida, os vencedores deverão sair da série A, mas também pode acontecer um atleta que foi parar à série B estar num grande momento de forma e entrar nos lugares cimeiros. Ou seja, depende do momento de forma dos atletas também.
Perspetiva-se, assim, um grande campeonato nacional?
Sim, sem dúvida. Acredito que teremos provas muito competitivas, com vários atletas a um nível muito semelhante… talvez com oito, dez, 12 atletas a um grande nível… sendo que, depois, só poderemos selecionar seis em cada prova e depois os quatro da Estafeta (dois masculinos e dois femininos) para os Europeus. Por isso, prevejo provas com muito boa competitividade, com um nível de muito elevado.
Ou seja, boas perspetivas também para a participação de Portugal no Campeonato da Europa?
Eu digo que vai ser difícil qualificarem-se para o Europeu. Todos sabemos que nos últimos tempos não temos conseguido os resultados que obtivemos nas edições iniciais dos Campeonatos da Europa de Corta-Mato. Muito pelo nível que nós na altura tínhamos em comparação com o nível que a Europa tinha. Certos países da Europa cresceram bastante e por isso atualmente os Europeus de Corta-Mato têm agora um nível muito alto. As medalhas estão caras. Mas obviamente que todos estamos a trabalhar para que isso possa ser uma realidade, temos a perspetiva de que pode acontecer, mas não é nada fácil porque já há muita gente na Europa a preparar estes Campeonatos de Corta-Mato como grande competição que é.
Que conselhos deixa aos atletas, aos clubes que que vão marcar presença nestes campeonatos nacionais de corta-mato longo em Lagoa?
Tentem preparar-se muito bem nestes dias que ainda faltam. Estão a decorrer os campeonatos regionais e distritais e há que conseguir um bom nível competitivo para que consigam trazer as equipas mais homogéneas possível e que venham com equipas quanto mais completas melhor, cumprindo os requisitos do Regulamento. E uma palavra para aqueles que poderão não entrar porque este ano não têm estas referências para poder participar, mas esperemos que no próximo ano possam ter a oportunidade de participar num outro circuito que possa abranger mais gente. Para quem participa, pensarem que é um prazer e uma honra competirem no percurso onde vai ser o Campeonato da Europa. Aos atletas, empenharem-se ao máximo, porque a qualificação para o Europeu… a linha está alta, têm que empenhar-se bastante. E, claro, que este vai ser o principal momento de observação para sair a Seleção, que esperamos escalar no nos dias seguintes, para posteriormente, no dia 30, entrarmos em estágio final com os atletas selecionados no local, para que cada um deles ainda tenha a possibilidade de otimizar-se ao máximo possível no percurso.

Agradecemos o grande apoio do município de Lagoa tendo em vista os campeonatos nacionais e europeus e também nos estágios de observação. Em parceria com a Federação o município de Lagoa tem sido um parceiro incansável com o apoio de alojamento e alimentação, tendo-se disponibilizado desde a primeira hora para apoiar o atletismo.
Campeonatos Nacionais de Corta-mato
Mais informações (regulamento, programa-horário e histórico da competição) na página oficial dos Campeonatos Nacionais de Corta-mato. As inscrições já estão abertas no portal FPA Competições, para os nacionais seniores, sub-23, sub-20, sub-18 e sub-16 (competição no dia 23 de novembro), e também para os nacionais de veteranos, no dia 22 de novembro.
Fotos (arquivo): FPA e Paulo Murta