Falta um mês para a 31.ª edição dos SPAR Campeonatos Europeus de Corta-Mato, que este ano se realizam em Lagoa/Algarve, no dia 14 de dezembro. Desde 1994 que esta competição representa o ponto alto da temporada de inverno do atletismo europeu. A primeira edição, realizada em Alnwick (Reino Unido), ficou marcada por um triunfo português histórico: Paulo Guerra venceu individualmente e conduziu Portugal ao ouro coletivo, com Domingos Castro a conquistar a prata. Era o início de uma relação especial entre o corta-mato europeu e o atletismo nacional.
A Federação Portuguesa de Atletismo é uma das federações que estrearam a competição e que, desde então, nunca faltaram nas 30 edições já realizadas e que valeram a Portugal um acumulado de 59 medalhas (19 de ouro, 20 de prata e 20 de bronze).
Paulo Guerra, em masculinos, com os seus quatro títulos de campeão europeu (1994, 1995, 1999 e 2000) e vice-campeão em 1996; e, em femininos, as atletas Jéssica Augusto, campeã europeia em 2010, vice-campeã em 2008 e ainda campeã júnior em 2000; e Dulce Félix, a mais medalhada das portuguesas, duas vezes vice-campeã (2011 e 2012) e terceira classificada em 2010 e 2013, são os expoentes máximos do atletismo nacional nesta disciplina. Nos últimos anos, Mariana Machado, tem somado presenças – seis no total – e foi medalha de bronze em sub-20 na edição de 2019 (em Lisboa) e também em sub-23, na edição de 2021.
Quem está confirmado para Lagoa?
Nadia Battocletti já confirmou que irá defender o seu título sénior feminino no próximo mês. A italiana acumulou mais uma temporada superlativa em todas as superfícies, conquistando medalhas nos 5000 m e 10 000 m no Campeonato Mundial de Atletismo em Tóquio e o ouro nos 10 km no primeiro Campeonato Europeu de Corrida.
Outro nome de destaque que tem Lagoa como objetivo é Megan Keith. A britânica perdeu o Campeonato Europeu de Corta-Mato do ano passado devido a uma lesão, mas venceu a prova sub-23 em Bruxelas 2023 por incríveis 83 segundos, a maior margem de vitória em qualquer prova na história do campeonato.
A sua colega de equipa Innes FitzGerald também tem aspirações de encerrar a sua carreira júnior com o seu terceiro título consecutivo sub-20 no Campeonato Europeu de Cross Country SPAR.
O campeão europeu de maratona e medalhista de bronze mundial de maratona, Iliass Aouani, também foi pré-selecionado para a equipa italiana para Lagoa.
As esperanças portuguesas nas corridas seniores recaem sobre a medalhada (bronze) em sub-20 (2019) e sub-23 (2021), Mariana Machado, que ficou em quinto lugar em Antalya no ano passado e depois em quarto lugar nos 10 km no Campeonato Europeu de Corrida em Estrada (10 km).
Os portugueses em Lagoa
A seleção portuguesa será escolhida após os Campeonatos Nacionais de Corta-mato, que se realizam também em Lagoa, nos dias 22 e 23 de novembro. De acordo com os critérios de classificação, serão automaticamente selecionados os três primeiros classificados em cada escalão (sub-20, sub-23 e seniores). Os três restantes atletas serão selecionados em função da sua prestação desportiva, em competições nacionais e internacionais, ao longo do período de observação (18 de outubro a 23 de novembro).
De acordo com o documento dos critérios de seleção, a participação nos Campeonatos Nacionais de Corta-mato, é o momento de observação com maior importância no processo de seleção dos atletas.
Para a estafeta mista de 4×1500 metros, a seleção será feita em função da análise da prestação desportiva dos atletas na estafeta do Campeonato Nacional de Corta-mato, principal momento de avaliação, e em provas nacionais e internacionais, na distância da milha e 1.500 metros, realizadas em estrada, corta-mato e pista, durante o período de observação. No entanto, nesta disciplina, a Direção Técnica Nacional (DTN), por forma a assegurar melhor representação nacional, reserva-se no direito de selecionar atletas que tenham prestações desportivas assinaláveis, nas distâncias de milha e 1.500 metros, durante o ano de 2025.

Os melhores de sempre
A nível internacional, a Ucrânia domina o historial individual através de Serhiy Lebid, recordista absoluto com nove títulos e 12 medalhas no total, enquanto a Grã-Bretanha lidera o quadro de nações com 199 pódios conquistados… Lagoa pode assistir ao 200.º pódio de atletas britânicos.
Entre as mulheres, a norueguesa Karoline Bjerkeli Grøvdal soma dez medalhas, quatro delas de ouro, e é uma das grandes figuras da atualidade, sucedendo à britânica Paula Radcliffe e à irlandesa Fionnuala Britton.
A 30.ª edição, realizada em 2024, em Antalya, consagrou duas estrelas incontornáveis na atualidade: o norueguês Jakob Ingebrigtsen, tricampeão europeu sénior, e a italiana Nadia Battocletti, primeira atleta a vencer em sub-20, sub-23 e seniores. Ambos confirmaram o estatuto de fenómenos do atletismo europeu.
Breve história
Nas três primeiras edições dos Campeonatos Europeus de Cross Country apenas se realizaram corridas de seniores, antes das corridas de Sub-20 serem acrescentadas como evento oficial em 1997 (as corridas de Sub-20 realizaram-se em 1996, embora como evento de exibição), seguindo-se as corridas de Sub-23 em 2006, antes da adição da estafeta mista em 2017.
Pela primeira vez na história do evento, foi alcançada a paridade entre os sexos em 2023, com os homens e as mulheres a correrem nas mesmas distâncias nos respetivos escalões etários. Ambas as corridas seniores foram disputadas em 9 km, o que significa que a corrida feminina duplicou a distância desde a primeira edição, que foi disputada em 4,5 km.
No historial da competição, apenas 15 países – Portugal incluído – contabilizam a totalidade de participações nas 30 edições realizadas. Bélgica, Dinamarca, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia, Reino Unido e Chipre são os restantes.
Lagoa recebe, assim, a 31.ª edição dos Europeus de Corta-Mato, sendo esta a quarta vez em solo português depois de Oeiras (1997), Albufeira (2010) e Lisboa (2019). Será o regresso de uma competição que une tradição, emoção e excelência.

1994 – Paulo Guerra 
2010 – Jessica Augusto
Na lista dos mais medalhados estão os portugueses Paulo Guerra, com cinco medalhas (quatro títulos, uma de prata), Dulce Félix, com quatro (duas de prata e duas de bronze), Jéssica Augusto com três (duas de ouro, uma como sénior, outra como júnior, e uma de prata), e Inês Monteiro com três (uma de ouro e outra de prata como júnior e uma de bronze como sénior). Com medalhas individuais, contam-se ainda Eduardo Henriques (duas medalhas, uma de prata outra de bronze), Domingos Castro (uma de prata), Rui Silva e Yousef El Kalay (cada um com bronze), Analídia Torre (uma medalha de prata), Mariana Machado com duas medalhas de bronze, uma em sub-20, outra em sub-23, Mónica Rosa, prata em sub-20 e Rui Pinto, bronze em sub-20.
Os atletas mais prolíficos da história do campeonato são o ucraniano Sergiy Lebid e a irlandesa Fionnuala McCormack, que participaram, respetivamente, 19 e 18 vezes no SPAR Campeonatos da Europa de Corta-Mato.
Fotos (arquivo) FPA (foto de capa: pódio feminino em Albufeira 2010)

