A pouco mais de 15 dias para o SPAR European Cross Country Championships Lagoa 2025, que se realiza dia 14 de dezembro, recordamos o primeiro Europeu de Corta-Mato disputado em Portugal: Oeiras acolheu, a 14 de dezembro de 1997, aquela que viria a ser uma das edições mais marcantes na história do Campeonato da Europa de “Cross Country”. Foi a primeira vez que Portugal recebeu a competição e também a primeira edição a integrar oficialmente as provas de juniores, uma decisão estratégica da European Athletics que redefiniu o futuro da modalidade e tornou o Europeu num evento verdadeiramente intergeracional.
Numa época em que o corta-mato era uma das disciplinas de maior densidade competitiva do atletismo europeu, Portugal apresentava-se em grande força, embalado por resultados consistentes ao longo da década e pela crescente tradição de organização de provas internacionais. Oeiras respondeu ao desafio com um percurso técnico, exigente e espetacular, localizado no Parque Jamor, que reuniria 83 atletas na prova masculina de seniores, 55 femininas e dezenas de jovens distribuídos pelas novas categorias.
Seniores Masculinos: Jørgensen vence, Portugal brilha e conquista o ouro coletivo
A prova masculina foi um dos momentos de maior intensidade competitiva da edição. O dinamarquês Carsten Jørgensen correu de forma magistral e venceu em 27:19, seguido apenas um segundo depois pelo sueco Claes Nyberg. O ucraniano Serhiy Lebid, que viria a ser uma das figuras mais dominantes da história do corta-mato europeu (nove vezes campeão Europeu, o que é um recorde absoluto), fechou o pódio com 27:23.

Portugal não conseguiu colocar nenhum dos seus atletas no pódio individual, mas a nível coletivo apresentou demonstração de força absolutamente notável com o quinto lugar de Alfredo Brás (27:32), seguindo-se Domingos Castro (27:37) em oitavo, José Regalo em nono (27:38) e Alberto Maravilha em 12.º (27:44) completando o conjunto pontuável.
Este desempenho permitiu a Portugal conquistar o título europeu por equipas, superando França e Espanha entre 15 seleções. Tratou-se de um êxito coletivo emblemático para o atletismo nacional dos anos 90, reforçando a reputação portuguesa numa das disciplinas em que o país historicamente mais se afirmou.
O triunfo ganhou ainda maior valor por surgir num ano em que o corta-mato nacional apresentava nomes como Paulo Guerra, campeão nacional de 1997, e Domingos Castro, que chegara ao Europeu após medalha nacional e forte campanha internacional.

Seniores Femininos: domínio da França e grande resultado de Helena Sampaio
A francesa Josianne Lladó confirmou o favoritismo e impôs-se nos 5 km com 17:20, à frente da romena Elena Fidatov (17:33) e de Olivera Jevtić (17:37), uma das figuras emergentes da Europa de Leste.
A melhor portuguesa foi Helena Sampaio, 6.ª classificada com 18:14, uma prestação de grande qualidade numa prova com 55 atletas, reforçando a competitividade do setor feminino português nesta era.

Coletivamente, a França conquistou o ouro, seguida da Roménia e de Espanha, enquanto Portugal fechou num honroso 4.º lugar entre 11 equipas, com as participações de Helena Sampaio (6.ª), Ana Correia (19.ª) e Teresa Nunes (23.ª).
Juniores: a edição que lançou futuros protagonistas da Europa
A introdução das provas de juniores deu uma nova vida ao Europeu. Muitos dos atletas presentes em Oeiras viriam a tornar-se referências internacionais. O neerlandês Gert-Jan Liefers venceu em juniores masculinos (5 km) com 15:45, num pódio que incluía também o austríaco Günther Weidlinger (15:50) e o sueco Mustafa Mohamed (16:00).

Por equipas, Espanha conquistou o ouro e Portugal – representado por Manuel Silva (13.º), Filipe Pedro (14.º), Manuel Damião (16.º) e Miguel Barros (30.º) – alcançou um excelente 2.º lugar, à frente de Roménia, Itália, Finlândia ou Reino Unido num total de 12 seleções. Para a estrutura portuguesa, esta medalha coletiva foi interpretada como sinal de futuro, num período em que o país investia fortemente na formação.
Em juniores femininos (3 km), a jugoslava Sonja Stolić venceu com grande autoridade (9:09), mas a portuguesa Mónica Rosa (então com apenas 18 anos) roubou atenções ao conquistar o 2.º lugar, a apenas seis segundos da vitória, num pelotão de 56 atletas.

A Alemanha ganhou o ouro coletivo, seguida da Jugoslávia e do Reino Unido, com Portugal a terminar no 5.º lugar, representado por Mónica Rosa (2.ª), Inês Monteiro (25.ª), Madalena Carriço (26.ª), Nédia Semedo (28.ª) e Clarisse Cruz (37.ª), mostrando profundidade competitiva.
A nível interno, no ano de 1997, Paulo Guerra (Maratona) foi campeão nacional de Corta-Mato, à frente de Eduardo Henriques (Maratona) e Domingos Castro (Sporting). Coletivamente o Sporting sagrou-se campeão, seguido do Maratona e do Terbel. Em femininos, Fernanda Ribeiro (FC Porto), Marina Bastos (Pasteleira) e Conceição Ferreira (SC Braga) subiram ao pódio, num ano em que o Maratona foi campeão nacional feminino, seguido do Pasteleira e do FC Porto.
Passados quase 30 anos, o ano de 1997 e os campeonatos da Europa de Corta-Mato realizados em Oeiras continuam a ser lembrados como um dos momentos mais luminosos do corta-mato nacional.
Fotos (arquivo) FPA