Entrevista a João Abrantes: “O meu grande objetivo é estar nos Campeonatos da Europa com as quatro estafetas.”

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26 Abr, 2021
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Na semana em que as estafetas portuguesas de 4×100 metros masculina e de 4×400 metros e 2x2x400 metros mistas partem para os World Athletics Relays (1 e 2 de maio, Silésia, Polónia), o técnico nacional de barreiras, velocidade e estafetas, João Abrantes, antecipa os próximos compromissos. As estafetas partem para os mundiais do próximo fim-de-semana com o objetivo da qualificação para os Jogos Olímpicos de Tóquio, mas serão os Campeonatos da Europa de Nações – Superliga (29 e 30 de maio, Silésia, Polónia) o grande desafio do ano rumo ao feito histórico de garantir, pela primeira vez, a participação das quatro estafetas portuguesas nos Campeonatos da Europa, que se realizam no próximo ano em Munique.

Fotos: Marcelino Almeida

Texto: Vanessa Pais (FPA)

Partimos esta quinta-feira, 29 de maio, para os World Athletics Relays com as equipas mistas de 4×400 metros e 2x2x400 metros e com a equipa masculina de 4×100 metros. O que levamos na bagagem?

A nossa equipa mista de 4×400 metros é, neste momento, a 18.ª no ranking mundial. Para os Jogos Olímpicos de Tóquio são selecionadas 16, das quais as oito primeiras classificadas nos últimos Campeonatos do Mundo, que se realizaram no Qatar, às quais se vão juntar as oito equipas finalistas nestes campeonatos do mundo de estafetas.

É provável que muitas das equipas finalistas nos World Athletics Relays já estejam apuradas através do Qatar, o que quer dizer que serão qualificadas as que estiverem nos lugares seguintes no ranking, pelo que temos duas hipóteses de conseguir a qualificação. A primeira opção será, por conseguinte, estar nas oito primeiras equipas neste mundiais de estafetas – o que seria espetacular e não é completamente impossível, apesar de ser muito difícil –; ou conseguir uma marca nestes campeonatos, ou numa prova que se venha a realizar em junho, que nos permita entrar nesses lugares que vão ficar em aberto através do ranking mundial.

A equipa de 4×400 metros é muito forte, considerando a nossa realidade. Temos a recordista de Portugal dos 400 metros, Cátia Azevedo, e o recordista de Portugal dos 400 metros, Ricardo dos Santos. Depois temos na equipa feminina Vera Barbosa, que é a recordista de Portugal dos 400 metros barreiras, e Dorothé Évora. E, na equipa masculina, Mauro Pereira e João Coelho, que acabaram de abrir a época com dois recordes pessoais e com marcas muito boas. Os atletas prepararam-se especificamente para esta prova e estou muito esperançado que estejam lá os quatro ao seu melhor nível e que façam um grande resultado, que nos permita ir aos Jogos Olímpicos.

A equipa masculina de 4×100 metros tem os Jogos no horizonte (somos a 24.ª equipa no ranking mundial, sendo que são apuradas 16, o que torna a qualificação muito difícil), mas o principal objetivo da nossa participação nestes mundiais é preparar a equipa para os Campeonatos da Europa de Nações, que é uma prova muito importante para nós. Temos uma baixa, que é o Carlos Nascimento, que se lesionou, ainda por cima um atleta que fez uma época brilhante de pista coberta, que tem o recorde de Portugal e o quinto lugar nos europeus de pista coberta, mas felizmente a velocidade portuguesa já tem alguma profundidade e nós temos atletas jovens Sub-23, como é o caso do Delvis Santos, que abriu a época numa forma incrível nos 200 metros, com 20,78 segundos; e do André Prazeres, que é uma entrada de sangue novo na equipa, com a saída de Arnaldo Abrantes, Francis Obikwelu e Yazaldes Nascimento. Temos mais um mês para o Carlos Nascimento recuperar e para nos entrosarmos ainda melhor, sendo que é preciso dizer que o próprio Yazaldes Nascimento ainda não desistiu do atletismo e está a treinar.

Já a equipa feminina de 4×100 metros, apesar de não participar nos World Athletics Relays, tem o compromisso mais importante deste ano nos Campeonatos da Europa de Nações. No Festival de Estafetas, que se realizou a 25 de abril, integrado no Meeting da Liberdade, ficou a 16 centésimos do recorde de Portugal. Que objetivos tem para esta equipa?

A equipa feminina esteve espetacular, tendo feito uma marca muito, muito boa, de 44,89 segundos. É uma equipa de jovens, com duas atletas Sub-23, Patrícia Rodrigues e Catarina Lourenço, o que também nos permite pensar que podemos ter uma equipa de Sub-23 de 4×100 metros nos europeus deste ano; e, depois, a barreirista Olímpia Barbosa, que está fabulosa, e a atleta que vai ser o futuro da velocidade portuguesa, Rosalina Santos, que dá uma qualidade enorme a esta equipa. No caso da Lorene Bazolo entrar também para a equipa será excelente. No Festival de Estafetas ficámos muito perto do recorde nacional, naquele que foi o primeiro ensaio da época, numa prova na qual corremos sem equipas ao nosso nível, portanto os nossos grandes objetivos passam por bater o recorde de Portugal este ano e apresentarmo-nos muito bem nos Campeonatos da Europa de Nações.

Podemos afirmar que as nossas estafetas estão em posição para fazer história?

A estafeta masculina, sob a orientação do Prof. José Santos e da Prof.ª Anabela Leite como técnicos nacionais, conseguiu grandes resultados, com quatro ou cinco finais de Campeonatos da Europa, nos últimos 12 a 14 anos, o que é muito bom. E falar da história das nossas estafetas, é falar de Francis Obikwelu, que tem obrigatoriamente de estar associado a este boom da velocidade portuguesa, sendo uma referência para todos os nossos velocistas. A participação dele na estafeta portuguesa, quando fui técnico nacional, foi exemplar para todos os atletas mais jovens. Mas o tempo passa e é preciso renovar. Temos hoje uma nova equipa, com jovens, que vai dar continuidade aos excelentes resultados já alcançados, este ano com a participação nos Campeonatos da Europa de Nações – Superliga, e, no próximo ano, espero que sejamos novamente finalistas nos Campeonatos da Europa de Ar Livre. Como técnico nacional do setor, o meu grande objetivo é estar nos Campeonatos da Europa com as quatro estafetas, que foi algo que nunca aconteceu no atletismo português.

Os velocistas portugueses retomaram, de uma forma geral, a competição com excelentes resultados. Numa altura em que a pandemia pede distanciamento, como é que se promove o trabalho de equipa?

Treinámos em condições difíceis, principalmente no primeiro confinamento, durante o qual o Centro de Alto Rendimento [CAR] esteve fechado. Nesse período o meu trabalho passou por incutir que o atleta de alto rendimento tem de estar preparado para tudo. Não pode ser um atleta que se queixa quando as coisas lhe correm mal. É exatamente o contrário. Tem de ser o atleta que, independentemente das condições que tem, dá o seu melhor e adapta-se a qualquer condição. Foi isso que os atletas portugueses no seu geral fizeram. Foi isso que a Federação Portuguesa de Atletismo [FPA] também fez. A equipa técnica da FPA adaptou-se e, cumprindo todas as regras, esforçou-se por manter o atletismo português ao melhor nível possível. Estou muito satisfeito com o setor da velocidade, com o trabalho dos atletas e dos treinadores. Não houve desistências, não houve nenhum atleta que desmoralizasse, apresentando-se sempre todos em excelente forma. Portanto, os meus parabéns a todos os atletas e treinadores. Tenho um enorme orgulho em ser o responsável por este setor que, neste momento, está a trabalhar tão bem.

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