50 anos de 25 de abril, 50 anos de crescimento

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25 Abr, 2024
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Da noite para o dia. Também poderia ser o título que resume a evolução do atletismo português neste meio século após o 25 de abril de 1974. Tal como noutros desportos, Portugal era de uma pobreza franciscana, para mais muito massacrado, desde 1960, com a guerra colonial, verdadeira ceifeira de vida dos jovens portugueses, que os impediu de uma dedicação ao desporto.

Em mais de um século de atletismo, nunca foi tão marcante o significado de liberdade e evolução nesta área da sociedade e do desporto. No desporto, o atletismo português era verdadeiramente pobre. Nas 11 edições dos Jogos Olímpicos até 1974, Portugal foi representado por um total de 38 atletas, que nunca conquistaram qualquer medalha e a única presença nos oito primeiros classificados foi conseguida por Manuel Oliveira, nos 3000 metros obstáculos, em Tóquio’1964.

Em 1973, Portugal registava 2247 atletas filiados e os clubes (em 1974, porque de 1973 não há registos) eram 66! Eram escassas as provas populares e com pequena participação, quase sempre abaixo das cinco dezenas.

Em termos de pistas de atletismo, eram poucas e apenas o Estádio Nacional tinha piso sintético (inaugurado dois anos antes) e a pista do Estádio da Luz só seria inaugurada em maio.

Nesta fase das medalhas, Portugal só conquistara sete medalhas (até ao 25 de abril) e todas na década de 60, nos Jogos Ibero-Americanos, por Pedro Almeida (comprimento), Álvaro Conde (maratona), Júlio Fernandes (altura), Manuel Oliveira (1500 e 5000 metros e 3000 metros obstáculos) e Armando Aldegalega (maratona).

Atendendo aos baixos orçamentos para o desporto, Portugal raramente participava nas principais competições ou fazia-o com um número muito reduzido de atletas. Daí os fracos resultados e presenças inconstantes nas grandes competições de então. Veja-se que apenas em 1973, Portugal regressou ao Mundial de corta-mato, depois de 10 anos de ausência no Cross das Nações, que o antecedeu. Para além do 4º lugar de Oliveira nos Jogos Olímpicos, o atletismo português apenas registava, também, um quarto lugar de Álvaro Dias (comprimento) e um oitavo de José Araújo (maratona) nos Europeus de 1950 e 1954, respetivamente.

José Araújo

Em termos de seleções, nas três primeiras edições da Taça da Europa (atual Europeu de Seleções), a seleção nacional masculina foi 4ª e última na fase preliminar em 1965 e 1967 (último lugar no conjunto de todos os países) e não participou em 1970 (a seleção feminina não tomou parte em nenhuma das edições). Em 1973, aproveitando a inauguração do piso sintético no Estádio Nacional, Portugal organizou essa fase preliminar masculina, sendo terceiro entre quatro seleções (a seleção feminina foi última em Rijeka).

Ainda antes do 25de abril, já nos anos 70, os atletas Carlos Lopes, Fernando Mamede, Carlos Cabral e José Carvalho destacavam-se dos restantes. Antes do 25 de abril, estes atletas tinham previsto uma presença em terras angolanas e moçambicanas, para competirem em torneios internacionais, mas os bilhetes, então emitidos pelo Ministério do Ultramar, acabariam por não surgir.

E aconteceu o 25 de abril

Em 1974, a Federação Portuguesa de Atletismo preparava-se para comemorar 53 anos de existência. O quadro competitivo, curto, mantinha-se (e uma semana depois da data histórica realizaram-se os campeonatos de juvenis).

Contudo, a abertura proporcionada pelo 25 de abril atirou Portugal para a frente. Com a Direção Geral dos Desportos entregue a Melo de Carvalho, no espírito de democratização do desporto, foi criado o “Atletismo à Porta de Casa”, conceito que permitia praticar um atletismo simplificado (baseado na corrida) em praças e jardins de todas as cidades. No seguimento, em 1975, estreou-se a Meia Maratona da Nazaré, com 151 concorrentes, impulsionadora do movimento da corrida em Portugal, que em 1981 atingiu mais de dois mil concorrentes.

Marcante para o desenvolvimento do atletismo português foi o plano do professor Moniz Pereira para uma ajuda estatal aos atletas pré-olímpicos, baseando-se na dispensa da atividade profissional durante a manhã e um pequeno subsídio mensal. Aceite o plano, os atletas passaram a usufruir desse estatuto a partir de agosto de 1975 e os resultados chegaram logo no ano seguinte, com o título mundial de corta-mato de Carlos Lopes e com o mesmo atleta a chegar à prata nos Jogos Olímpicos de Montreal.

O caminho para o sucesso estava desenhado e foi desenvolvido nestas cinco décadas após o 25 de abril de 1974.

Em termos de filiados, Portugal passou a um recorde de 21785 praticantes em 2023 (um aumento de quase dez vezes mais, face aos 2247 de 1973) e a um total de 670 clubes (aqui dez vezes mais!).

Com presenças regulares nas grandes competições, Portugal passou de 7 para 820 medalhas, sendo 116 em grandes competições, avultando os cinco títulos de campeões olímpicos (única modalidade a ostentar este estatuto) obtidos por Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Nelson Évora e Pedro Pichardo, entre as 12 medalhas olímpicas, conquistadas pelos cinco atletas já citados e ainda por António Leitão, Francis Obikwelu, Rui Silva e Patrícia Mamona.

Ainda se contam 23 medalhas em Mundiais e 34 em Europeus, para além de 36 em Mundiais (16) e Europeus (29) de pista coberta. E há ainda as medalhas em corta-mato, estrada (também na marcha) e nos escalões jovens, para além das medalhas do desporto adaptado.

Em termos de seleções, aquele país que tinha últimos lugares, graças ao desenvolvimento da qualidade de treino e expetativas dos atletas portugueses, atingiu um nível global (em todas as disciplinas) que se traduziu por um triunfo na I Liga do Campeonato Europeu de Seleções em 2019, voltando Portugal a competir na Super Liga, primeiro para oito nações (2021) depois para dezasseis nações (I Divisão no novo modelo) em 2023, mantendo-se na elite das nações europeias para a edição de 2025.

Posto isto, o atletismo português também comemora o seu 25 de abril, sinónimo de liberdade, progresso e diversidade, conseguidos com apurado trabalho, sacrifício e dedicação dos seus milhares de atletas, os seus técnicos, os seus clubes e dirigentes, no fundo todos os que trabalham em prol da modalidade.

Ver cronologia histórica da FPA https://fpatletismo.pt/atletismo/estatistica/cronologia-historica-da-fpa/

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