Cartão… branco! Foi um dos pontos altos dos Campeonatos de Portugal de Pista, realizados em Pombal no último fim-de-semana: no lançamento do peso, Jessica Inchude, atleta de 28 anos, conquistou um recorde pessoal (19,18 metros), obteve o primeiro lugar, derrotando a colega de equipa Auriol Dongmo, (19,00 metros), mas no pódio Jessica ofereceu a sua medalha à colega de equipa, que a meio do concurso sentiu dificuldades. O gesto Inchude, que passou despercebido à generalidade da crítica, valeu-lhe o Cartão Branco, atribuído face à atitude de fair-play que demonstrou para com a colega.
Das dificuldades do início de época aos resultados
Mas já voltamos ao fair-play. Estivemos à conversa com Jessica Inchude e comecemos por perceber o que sente a sportinguista numa fase em que atravessa, talvez, o melhor momento da carreira.
“A verdade é que não comecei muito bem esta época. A minha mãe morreu em agosto e psicologicamente isso deitou-me um bocadinho abaixo. Ainda assim tentei ultrapassar, pedi ajuda e embora fisicamente me sentisse bem, a verdade é que não comecei da melhor forma”, realça a atleta, sem receio de colocar o dedo numa ferida que muitas vezes dói, mas não se vê: “Sentia que algo não estava bem. Estava a melhorar fisicamente e a corrigir, com a ajuda do meu treinador, algumas questões técnicas, mas a verdade é que psicologicamente estava a ir-me abaixo e pedi ajuda. Fiz meditação, consultei um psicólogo e… a verdade é que agora estou no bom caminho”.
Com a mente estabilizada, Jessica sabe, porém, que tem agora de batalhar para continuar a melhorar em termos técnicos. Embora tenha conseguido em Pombal a sua melhor marca de sempre (19,18 metros no terceiro lançamento do dia), que a eleva a tercira melhor europeia do ano, e de ter conquistado medalha de prata no Meeting Hvezdy v Nehvizdech, recentemente disputado na Chéquia, onde lançou 18,58 m. “Estou na melhor forma da minha vida, mas sentimos, eu e o meu treinador, que ainda consigo mais e posso evoluir, sobretudo se melhorar alguns pormenores técnicos”.
“Estou muito confiante para os europeus, assim o corpo e a mente ajudem”
É por isso que caminha para os Europeus de Pista Curta, que em março vão realizar-se em Apeldoorn, nos Países Baixos, com máxima confiança. “Desde os últimos Europeus, em que estive muito perto de uma medalha, que o meu objetivo passou a ser a conquista de medalhas numa grande competição e confesso que estou um bocadinho obcecada por isso. E estou muito confiante que posso conseguir algo especial em Apeldoorn, fazer um brilharete se o corpo e a mente estiverem interligados”, sublinha com confiança.
Uma confiança que lhe permitiu, em Pombal, não confundir o que é competição e rivalidade saudável com companheirismo e admiração. Jessica Inchude deu a sua medalha a Auriol Dongmo, segunda classificada, depois de perceber a batalha física que a companheira de equipa travava. “Sou uma grande admiradora da Auriol, pela sua força de vontade, pela perseverança em ultrapassar qualquer obstáculo. Eu estava muito concentrada na minha prova, mas percebi que ela depois do primeiro lançamento ficou deitada, em esforço, mas ainda assim continuou a lançar. Obteve o que pretendia, que eram os mínimos para os Europeus, e num gesto simbólico ofereci-lhe a minha medalha porque é uma grande lutadora e admiro muito isso”.
Portugal prepara-se, assim, para estar representado ao mais alto nível no lançamento de peso feminino nos próximos Europeus de Pista Curta, com a terceira melhor europeia do ano, Jessica Inchude, com a campeã europeia em 2021 e 2023, Auriol Dongmo, e ainda com Eliana Bandeira.
Fotos FPA / Marcelino Almeida