A História do atletismo português nos Jogos Olímpicos escreve-se desde 1912, com a V edição da competição criada pelo barão Pierre de Coubertin a realizar-se em Estocolmo, na Suécia.
A participação portuguesa começou a desenhar-se vários meses antes, muito por força da imprensa desportiva portuguesa, empolgada com os feitos do muito especial fundista Francisco Lázaro, e por figuras importantes no panorama desportivo à altura. Naquela época, o pedestrianismo era a forma mais popular da prática do atletismo, a par de algumas disciplinas de força, tração e saltos, para além de corridas marcadas em campos, denominadas por festivais atléticos. Esse movimento deu origem à criação do Comité Olímpico de Portugal (30 de abril de 1912), condição para a inscrição de uma equipa portuguesa na competição mundial. Já agora, o reconhecimento público do COP só veio em 1919, por decreto do ministro da Instrução Pública, Dr. Canto e Castro.
Na altura já se realizavam os Jogos Olímpicos Nacionais (génese dos Campeonatos de Portugal, reconhecidos a partir de 2010) e dez atletas foram sinalizados para fazerem parte da equipa olímpica. No entanto, o financiamento do estado nunca chegou, as federações não tinham forma de ajudar e foi preciso recorrer a uma petição pública, ainda assim insuficiente. Marcada uma gala de luxo, para angariar fundos, uma greve da Carris deitou por terra os sonhos de maior recolha de fundos, e o lote de 10 atletas foi reduzido para seis, “Os Seis de Estocolmo”, retratados no livro dos historiadores Francisco Pinheiro e Rita Nunes com o mesmo nome. António Stromp, Armando Cortesão, Francisco Lázaro (no atletismo), André Pereira e Joaquim Vital (luta) e Fernando Correia (esgrima) foram os atletas estreantes da presença portuguesa nos Jogos Olímpicos. Fernando Correia era ainda o Chefe da Missão e Joaquim Vital o treinador-massagista da equipa. Curiosamente, ambos estavam ainda acreditados como jornalistas. A 26 de junho, os seis embarcaram no paquete “Asturias” em direção a Southampton (GBR) e depois entre comboios e outros barcos, passando pela Dinamarca, lá chegaram a Estocolmo no dia 2 de julho. Os Jogos começaram a 6 de julho…
Desportivamente é o que se sabe. Stromp ficou nas eliminatórias de 100 e 200 metros, Cortesão nas de 400 e 800 metros, Francisco Lázaro sucumbiu na maratona acabando mesmo por falecer.
Não mais Portugal voltou a faltar aos Jogos Olímpicos, embora o atletismo português só tenha marcado presença regular a partir de 1924. Ainda assim, a participação portuguesa tardou em chegar ao estrelato. Em Londres 1948, o velocista Nuno Morais chegou às meias-finais dos 100 metros e Álvaro Dias, no comprimento, ficou em 16.º lugar, num ano em que Portugal – sim, não é só agora! – apresentou dois concorrentes no triplo-salto, João Vieira (14,28 metros) e Luís Alcide (13,92 metros). Na edição seguinte, no triplo, o melhor lugar de sempre, com Rui Ramos a ser 12.º na final (onde não chegou Eugénio Lopes).
Foi precisamente em Tóquio 1964 que a primeira medalha ficou por um fio: Manuel Oliveira foi quarto classificado nos 3000 metros obstáculos, com um recorde de Portugal!
Foi necessário esperar por Montreal 1976 para que o atletismo português brilhasse ao mais alto nível. Nos 10 000 metros, Carlos Lopes só foi superado pelo controverso Lasse Viren e conquistou a primeira medalha do atletismo português, marcando assim a 12.ª presença da equipa das quinas. Mas, ainda em Montreal, José Carvalho foi finalista nos 400 metros barreiras (5.º) e Aniceto Simões foi 8.º nos 5000 metros.
A história conheceria o primeiro capítulo dourado em 1984! Registando a maior presença de sempre em Los Angeles, Portugal regressou com três medalhas e mais dois diplomas de finalistas. Os diplomas ficaram nas mãos de Aurora Cunha, sexta nos 3000 metros, e de José Pinto, oitavo nos 50 km marcha. Já as medalhas foram conquistadas por António Leitão, bronze nos 5000 metros, o primeiro, depois por Rosa Mota, na estreia da maratona olímpica, também bronze e, finalmente, a suprema glória: Carlos Lopes sagra-se campeão olímpico de maratona com a marca de 2h09m21s, recorde olímpico que vingaria até ao Rio 2016!
Quatro anos depois, em Seoul 1988, Rosa Mota alcançou o Olimpo, sagrando-se campeã olímpica de maratona, o segundo título para o atletismo, a sua quinta medalha. A maior delegação de sempre, até então, com 29 atletas (apenas seis atletas femininas, só de meio-fundo), conseguiu mais um lugar de destaque, com o quarto lugar de Domingos Castro nos 5000 metros.
Em 1992, Barcelona acolheu os Jogos Olímpicos realizados pela primeira vez na Península Ibérica, e Portugal, apresentou a maior delegação de sempre, com 35 atletas. Sem medalhas e poucos resultados nos oito finalistas, Manuela Machado, com o sétimo lugar na maratona, e a estafeta de 4×400 metros (Marta Moreira, Eduarda Coelho, Elsa Amaral e Lucrécia Jardim) a terminar em oitavo lugar, com um recorde de Portugal que ainda perdura: 3m36,85s.
O poder económico sobrepôs-se ao histórico e em 1996, a comemorar 100 anos dos Jogos Olímpicos, estes rumaram a Atlanta (Estados Unidos) em vez de Atenas (Grécia). Os resultados de relevo regressaram através do meio-fundo feminino: Carla Sacramento foi sexta nos 1500 metros, Manuela Machado voltou ao sétimo lugar na maratona, mas Fernanda Ribeiro sagrou-se campeã olímpica de 10 000 metros! E voltaria ela a ser medalhada em Sydney 2000, de novo nos 10 000 metros, agora com a medalha de bronze.
Os Jogos Olímpicos regressaram a Atenas em 2004 e agora o destaque vai para a equipa masculina. Sem campeões olímpicos, Portugal regressa com a medalha de prata de Francis Obikwelu nos 100 metros (e quinto classificado nos 200 metros) e a medalha de bronze de Rui Silva, nos 1500 metros. Destaque ainda para Alberto Chaíça, oitavo classificado na maratona.
Em Pequim 2008, Nelson Évora conquistou o quarto título de campeão olímpico para o atletismo e para Portugal. Foi tempo de Ana Cabecinha se destacar, com um oitavo lugar nos 20 km marcha, ela que viria a ser preponderante também em Londres 2012, com um sétimo lugar na mesma distância, apenas superada pelo sexto lugar de Jéssica Augusto na maratona.
Finalmente, há cinco anos (Rio de Janeiro 2016), Portugal regressou com três sextos lugares: Nelson Évora, no triplo-salto, a mesma prova de Patrícia Mamona, e Ana Cabecinha, de novo na marcha.
No total, o atletismo português regista 278 presenças, com dez medalhas (do total de 24 de todo o desporto português) e 17 finalistas.
Links:
Livro de estatísticas do atletismo nos Jogos Olímpicos (World Athletics)
Mini site da World Athletics sobre os Jogos Olímpicos
Página de Estatística do Atletismo português mos Jogos Olímpicos