Decorreu ontem, na Faculdade de Motricidade Humana (FMH) o seminário “Patrícia Mamona: a base científica das medalhas”, com a participação dos seus protagonistas, a atleta Patrícia Mamona e o seu treinador de sempre José Sousa Uva.
Este seminário, organizado pela Faculdade de Motricidade Humana (FMH), com o apoio da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) e do Comité Olímpico de Portugal (COP), focou-se na necessidade de desenvolver um trabalho multidisciplinar, apoiado numa equipa capaz de mobilizar vários saberes. “Sem eles, a Patrícia não tinha conseguido saltar os 15,01 metros” que a conduziram à medalha nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, concluiu José Sousa Uva, no fundo uma intervenção mais científica, em linha com o que desvendara nas “Conversas do Centenário”, promovidas pela FPA no final do ano passado, em atividade complementar à Exposição do Centenário.
Essa equipa multidisciplinar de Patrícia Mamona é composta pelo seu treinador de sempre, José Sousa Uva, Paulo Oliveira, biomecânico (Federação Portuguesa de Atletismo); Cláudia Minderico (da Direção de Medicina Desportiva do COP), nutrição e suplementação; João Lameiras, psicologia (ex-Federação Portuguesa de Atletismo); Duarte Araújo, tomada de decisão e expertise; Isabel Crespo, médica; e Tiago Gamelas (Sporting Clube de Portugal) e Ricardo Paulino (Federação Portuguesa de Atletismo), fisioterapeutas.
Na sua intervenção, José Sousa Uva sublinhou que, “neste percurso de 20 anos de ligação com a atleta, que a descobri num corta-mato escolar, no Cacém, não sei quem é que aprendeu mais, se fui, se foi ela. Ensinou-me muitas lições, nem ela muitas vezes se apercebeu”.
Para o futuro, José Sousa Uva revelou que todos estes profissionais trabalharam aspetos tão importantes como o sono, a alimentação ou a motivação psicológica e que, estando tudo alinhado, só há um caminho.
“É sempre possível saltar mais um centímetro. A transcendência é o nosso objetivo”, afirmou o treinador, acrescentando que é necessário “competir e estar onde estão os melhores. Competir com essas atletas para que o dia da prova seja só mais um dia. Se assim for, no dia da prova estaremos prontos para competir e é só saltar mais do que as adversárias”, terminou.
Já a vice-campeã olímpica, Patrícia Mamona, explicou como começou no Atletismo e revelou possuir um espírito competitivo que a acompanhou sempre. “Desde muito nova percebi que os desafios servem para nos superarmos. Nós atletas vivemos isso todos os dias, temos de nos focar no objetivo, sempre a tentar alcançar uma meta”, confidenciou a atleta.
Sobre o seu percurso, a atleta que em 2021 conquistou a medalha de ouro no Campeonato da Europa de atletismo em pista coberta recordou a passagem pelos Estados Unidos da América, a lesão e a decisão de formar uma equipa multidisciplinar.
“Eu e o meu treinador percebemos que sozinhos não podíamos fazer mais do que já tínhamos conseguido e por isso constituímos a nossa equipa multidisciplinar”, contou Patrícia Mamona, que para o futuro deixou a promessa de saltar mais do que os 15,01 metros, que é o seu atual recorde e melhor marca nacional.
“O máximo não é o limite. Vou fazer mais do que 15,01 metros. O caminho continua, à procura de um novo máximo. Vou continuar a trabalhar”, concluiu a atleta.
Na abertura do seminário, Luís Sardinha, presidente da FMH, sublinhou que “o conhecimento é determinante para a tomada de decisão e para a evolução dos atletas”, chamando à atenção para a importância do trabalho desenvolvido pela ciência aplicada ao desporto. José Manuel Araújo, secretário-geral do COP, reforçou essa ideia: “O alto rendimento precisa muito do trabalho de investigação. O sinal que o COP quer deixar aqui é que é fundamental que as faculdades e as federações trabalhem em conjunto. É fundamental juntar esforços”.
Já Jorge Vieira, presidente da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), deixou um desafio aos promotores da sessão: “Organizar um seminário sobre a base científica do insucesso, porque é através do insucesso que se compreende o sucesso.”
Após as intervenções dos protagonistas, no módulo científico do seminário, Cláudia Minderico, nutricionista do COP, falou sobre “A nutrição centrada no atleta e no treino para a excelência desportiva”; Paulo Oliveira, da FPA, centrou-se em “A biomecânica aplicada ao treino da Patrícia Mamona”; Duarte Araújo, professor e investigador da FMH, abordou o “Treino da tomada de decisão e da perícia de Patrícia Mamona”; e Pedro Santos, da FMH e da FPA, fez a “Análise da performance da Patrícia Mamona nas competições internacionais”. A moderação coube a Maria João Valamatos, docente da FMH.