João Vieira vai para a 14ª presença em Mundiais… aos 49 anos

FPA Geral Notícias

5 Set, 2025
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João Vieira é um atleta de enorme palmarés, cujos pontos altos são definições puras do seu desempenho: quinto classificado nos Jogos Olímpicos de Tóquio’2020, aos 45 nos de idade, medalha de prata no Mundial de Doha’2019 e de bronze no de Moscovo’2013 (9º em 2009 e 11º nos 50 km em 2017), medalha de prata no Europeu de Barcelona’2010 e de bronze no de Gotemburgo’2006.

Nascido em 20 de fevereiro de 1976, em Portimão, está radicado em Rio Maior desde pequenino e foi ali que “nasceu” para a marcha, no Clube de Natação de Rio Maior. Agora no Sporting Clube de Portugal, vai para a sua 14.ª participação em Mundiais.

Presente no estágio de Oita, aproveitámos para falar com ele sobre esta sua presença e começámos por lhe perguntar se ainda recordava a sua primeira participação.

«Ainda me lembro sim. Foi em 1999, em Sevilha, numa tarde calorosa, com partida às cinco horas da tarde, com 42 graus de temperatura, e não terminei a prova. Foi um sofrimento total naquele dia. Era um novato e estava contente por competir no sítio onde tinha acontecido a Expo em Sevilha. Essa foi a primeira grande competição em que participei a nível mundial. Antes, um ano antes, tinha participado no Europeu de Budapeste. Portanto, Sevilha, com 21 anos de idade, foi o primeiro mundial. Aqui, vou para a 14ª participação, agora com 49 anos, mas com a mesma alegria e espírito do primeiro, do segundo e do terceiro e dos outros todos, e aqui estou para fazer o meu melhor no dia 13, numa prova inaugural nos Campeonatos do Mundo aqui em Tóquio».

Felizmente volta uma distância longa nos Mundiais, agora de 35 km, e ainda transportas contigo, de 2019, uma medalha de prata em que és referido, pela World Athletics, como o mais velho atleta medalhado num Mundial…

«Sinto orgulho nesse feito e, na verdade, estatisticamente lá está registado, tal como ser o atleta com maior número de participações. Essa é a marca do João Vieira, a sua resiliência ao longo de todos estes anos, marchando atrás dos objetivos apesar da idade de 49 anos. Objetivos que continuo a ter e a tentar concretizar. Este será o último ano da distância de 35 km, por isso quero fazer o meu melhor e terminar. As diferentes alterações de distâncias têm levado a diversas adaptações e eu tenho visto que vários atletas dos 20 km vão também aos 35 km e o ritmo tem aumentado. Mas eu estou cá para fazer o melhor.»

«O João Vieira tem os pés bem assentes na terra e por isso consegue alcançar resultados que ninguém pensa que ele consegue atingir. Por isso, sinto que sou uma motivação para muitos atletas, muitos adversários que eu enfrentei ao longo da carreira e o objetivo é mesmo fazer o melhor possível naquele dia e sair com a cabeça erguida desta competição».

Treino de hoje no estádio de Oita

Pegando mesmo na questão da referência, também tiveste alguns e que são teus amigos.

«Ao longo destes anos, de facto, enfrentei muitos e alguns são amigos. Desde logo o polaco Robert Korzeniovski, duplo campeão olímpico, mas também os espanhóis, os brasileiros. Veja-se que, há pouco, saiu uma notícia na World Athletics que eu iria cumprir 14 mundiais, aos 49 anos, e as mensagens de incentivo e de parabéns à minha treinadora foram imensas».

Regressando ao passado, consegues nomear aquela em que te sentiste mais satisfeito?

«Definitivamente, a prova de 2019, em Doha, onde conquistei a medalha de prata nos 50 km. Fiquei muito satisfeito porque todo o trabalho que foi realizado, por toda a equipa que eu tive por trás, com a ajuda da Federação Portuguesa de Atletismo e do Comité Olímpico de Portugal. Foi um marco para a minha carreira essa medalha de prata, como o ponto mais alto, logo a seguir ao quinto lugar nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2021, mas que a marcha se realizou em Sapporo. Nunca tinha tido um diploma olímpico e nessa prova era um candidato a medalhas. Lutei com todas as minhas forças até aos últimos três quilómetros, nos quais não consegui fazer mudança de andamento para acompanhar os meus adversários. Foi excelente por receber a medalha diretamente no local, ouvir as pessoas a apoiar-me, poder abraçar uma bandeira, foi bastante importante. Já tinha uma de bronze, mas foi ganha por desclassificação de outro atleta e na verdade nunca a recebi. Não tenho culpa que os aldrabões sejam apanhados”.

De novo em 2025, Mundiais de Tóquio, sentes que estás preparado para condições climatéricas como tiveste em Doha e Sapporo?

«Não posso dizer que estou totalmente preparado, mas sei que fiz um trabalho muito longo, que foi delineado por mim e pela minha treinadora, que conseguimos cumprir. Agora, aqui em Oita, vamos fazer as adaptações necessárias nestes dias prévios à competição».

E, para finalizar, os Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028 estão no teu horizonte?

«Los Angeles é um caso que ainda está em cima da mesa. Tudo depende do que é que World Athletics vai conseguir colocar na competição. Se será a distância de maratona, que muitos países estão a tentar forçar. A verdade é que nada está definido ainda».

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