Depois da prata nos 10 000 metros, Francisco Laranjeira sagrou-se hoje, 24 de agosto, também vice-campeão de 5000 metros, nos Europeus de Surdos, que decorrem até ao próximo sábado, em Szczecin, na Polónia. Com o quarto lugar de Hemilton Costa conquistado também hoje e o 16.º lugar de Abubacar Turé nos 100 metros, no segundo dia, esta é a melhor participação de sempre de Portugal nesta competição, num ano especialmente difícil pela não aprovação, até à data, e consequente não pagamento, das bolsas de apoio do IPDJ e do Comité Paralímpico respeitantes ao Projeto de Preparação Surdolímpica.
A grande figura desta participação foi Francisco Laranjeira. Depois de se sagrar vice-campeão de 10 000 metros logo no primeiro dia da competição, o português cumpriu a distância de 5000 metros em 15m16,57s, recorde pessoal, voltando a ficar apenas atrás do sueco Otto Kingstedt, que arrecadou os dois títulos, desta vez em 14m51,92s, recorde dos campeonatos. “Esta prova foi muito tática, mas consegui e correu bem. Fiquei feliz com os resultados obtidos, numa época que foi muito dura, tanto pelo facto de não ter o apoio do Projeto de Preparação Surdolímpica, como pela recuperação que tive de fazer de um acidente”, sublinhou, no final, Francisco Laranjeira.
Foi também este o balanço que fez o seu treinador, João Ferrão, que integrou a comitiva nacional: “O balanço desta participação é extremamente positivo. Acreditávamos que o Francisco pudesse lutar pelas medalhas, tanto na prova de 10 000 metros como na de 5000 metros. Felizmente foi isso que aconteceu. Este foi um final feliz de uma história que começou mal, com o acidente do Francisco em abril de 2022, que motivou a cessação dos apoios à sua preparação, por parte do Comité Paralímpico. Toda a época foi desenvolvida com o apoio da Federação Portuguesa de Atletismo [FPA], do seu clube – o Grupo Desportivo Diana –, e da sua família. Só assim foi possível continuarmos a trabalhar, em alguns momentos com muitas dificuldades, mas tentámos sempre fazer o melhor possível e hoje estamos muito orgulhosos por aquilo que conseguimos. Parabéns ao Francisco!”.
Para as contas finais entraram ainda as prestações de Abubacar Turé, a disputar a qualificação dos 200 metros, que já havia sido 16.º nos 100 metros; e de Hemilton Costa, no salto em comprimento. Os 200 metros não correram a Turé comos os 100 metros, sendo que o atleta não terminou a prova e, como tal, ficou afastado da final, que se realiza amanhã. “Desisti nos 200 metros por estar a sentir-me maldisposto, mas o saldo desta minha participação é positivo, por ter voltado a fazer a marca de acesso ao Projeto de Preparação Surdolímpica, e que é uma motivação para continuar, sendo que desde 2021 não tinha apoios do Comité Paralímpico e espero agora voltar a ter”, referiu o atleta no final.
Com a desistência de Turé na qualificação dos 200 metros, a prestação lusa nestes campeonatos terminou hoje, com a participação de Hemilton Costa, na prova de salto em comprimento. O atleta terminou o concurso no quarto lugar, com a marca de 6,57 metros, a sua melhor nesta temporada. “Hoje a competição foi boa, a melhor marca da época. Agradeço a toda a comitiva, amigos e treinadores do Porto e de Paris”, referiu o atleta no final.
Sobre a participação portuguesa nesta 11.ª edição nos Campeonatos da Europa de Surdos, o team leader desta delegação nacional, Carlos Veredas, reforçou “o resultado mais do que positivo obtido por esta seleção”. E justificou: “Tínhamos projetado conquistar uma medalha e foi possível obter duas, pelo Francisco Laranjeira, que bateu o seu recorde nos 5000 metros. De salientar ainda o quarto lugar de Hemilton Costa, que fez a sua melhor marca nesta temporada; e a prestação de Abubacar Turé nos 100 metros, que lhe permitiu obter marca para entrar no Projeto de Preparação Surdolímpica.”
Carlos Veredas aproveitou ainda a oportunidade para esclarecer que “os atletas têm tido apenas o apoio da Federação Portuguesa de Atletismo, dos seus clubes e das suas famílias, não havendo qualquer apoio nem do Comité Paralímpico de Portugal nem do IPDJ, visto que desde janeiro que esta última entidade não entrega o valor correspondente às bolsas destes atletas nem à FPA nem ao Comité Paralímpico”. “Esta situação”, continuou o team leader, “faz com que seja a FPA a suportar os custos e com que os clubes e os atletas tenham de suportar mais despesas, para poderem estar preparados para estes campeonatos”. Com estes resultados, “viu-se que os atletas fizeram o esforço, estiveram nestes campeonatos, conseguiram duas medalhas, um quarto lugar e um 16.º lugar entre os melhores da Europa, o que foi o melhor resultado de sempre nesta competição”, concluiu Carlos Veredas.
Os resultados completos estão disponíveis em https://edac2023.domtel-sport.pl/