Por António Fernandes (com Vanessa Pais e José Silva)
É habitual, a cada final de ano, fazerem-se balanços das atividades. O atletismo não foge à regra, colocando em perspetiva os feitos alcançados pelos seus atletas, para que os balanços comparativos (ainda que sem critérios claros) possam ser mais realistas. E o ano de 2023 (especialmente a fase da época desportiva) trouxe coisas positivas para o atletismo português: manutenção na I Divisão do Europeu de Nações, reforçando o seu estatuto na elite europeia; sete medalhas em campeonatos internacionais e 33 recordes de Portugal e nacionais superados.
Na realidade, a época de pista coberta produziu a melhor prestação de sempre de Portugal nos Campeonatos da Europa de Pista Coberta, em Istambul, que também foram um dos mais participados de sempre. Alcançando um sexto lugar no quadro de medalhas e trazendo três medalhas da Turquia (ouro por Pedro Pichardo e Auriol Dongmo, bronze por Patrícia Mamona), estes Europeus proporcionaram ainda quatro recordes nacionais (triplo, por Pedro Pichardo, duas vezes; 400 metros, por João Coelho; 60 metros, por Arialis Martinez).
Em termos de seleção nacional, a equipa portuguesa que participou na I Divisão do Europeu de Equipas (a elite europeia) classificou-se em oitavo lugar, longe dos lugares de descida à II Divisão. Também aqui caíram três recordes de Portugal: nos 400 metros, por João Coelho (que melhoraria depois em Chengdu); nos 4×100 metros femininos (Lorene Bazolo – Arialis Martinez – Rosalina Santos – Íris Silva); e na estafeta mista de 4×400 metros (João Coelho – Cátia Azevedo – Ricardo dos Santos – Fatumata Diallo); e ainda um recorde nacional sub-23 (por Pedro Buaró, no salto com vara, que antes já o fizera por duas vezes).
No que diz respeito aos recordes de Portugal, destaque ainda para o recorde de estrada na meia-maratona, com Samuel Barata a baixar da hora.
Entre os mais jovens, destaque para Sisínio Ambriz, responsável por ter superado oito recordes nacionais do escalão sub-20 em pista coberta, nos 60 metros barreiras (cinco nas barreiras oficiais do escalão, três nas barreiras com altura de sénior). Ao ar livre, Sisínio também somou recordes: três nas barreiras do escalão, cinco nas barreiras do escalão sénior.
Vejamos, por área, os feitos mais significativos do atletismo português na época de 2023/2024:
Ar livre
O ponto alto da seleção nacional foi atingido na Polónia, no Campeonato da Europa de Equipas. Participando na I Divisão (que substituiu a Superliga), entre 16 nações (a prova foi disputada em três divisões de 16 nações cada), Portugal manteve-se na elite europeia, terminando como a oitava melhor nação europeia! Mesmo sem contar com os medalhados olímpicos Pedro Pichardo e Patrícia Mamona e tendo-se lesionado Evelise Veiga durante a competição!
Como esta prova contava para os Jogos Europeus, o atletismo português voltou a contribuir com medalhas para o nosso país, através do ouro de Auriol Dongmo (lançamento do peso) e da prata de João Coelho (400 metros) e de Isaac Nader (1500 metros).
Nos Campeonatos Mundiais em Budapeste, os portugueses não conseguiram expressar os melhores desempenhos que tinham prometido ao longo da época. Embora uma dezena de atletas tenha competido nas finais das suas disciplinas, nenhum chegou ao pódio e apenas dois atingiram lugares de finalista: Auriol Dongmo, quarta classificada no lançamento do peso, e Liliana Cá, oitava classificada no lançamento do disco.
E a época ao ar livre até começou bem, com Portugal a obter a melhor classificação de sempre na Taça da Europa de Lançamentos (que se realizou em Leiria), com o segundo lugar coletivo em masculinos e o quarto lugar em femininos. Individualmente Jessica Inchude (lançamento do peso) e Leandro Ramos (lançamento do dardo) triunfaram nas suas disciplinas.
No Campeonato da Europa de Marcha por Equipas, Portugal (em femininos) obteve o sexto lugar coletivo, com Ana Cabecinha a evidenciar-se chegando ao bronze.
Embora tenham outro tipo de “peso” na hierarquização das competições, destaque ainda para a presença nacional nos Jogos Mundiais Universitários, realizados em Chengdu (China), com o atletismo português a obter quatro medalhas: ouro, por João Coelho (400 metros) e por Mariana Machado (5000 metros); prata por Décio Andrade (lançamento do martelo) e por Eliana Bandeira (lançamento do peso).
Nos Europeus por escalões, em sub-23 (realizados em Espoo, Finlândia), Etson Barros obteve a medalha de prata nos 3000 metros obstáculos e mais três atletas regressaram com o estatuto de finalistas: Omar Elkhatib (4.º nos 400 metros), Inês Mendes (5.ª nos 20 km marcha) e André Pimenta (7.º no salto em comprimento).
Já nos Europeus de Sub-20, em Jerusalém, onde a equipa portuguesa foi afetada por um vírus, que impediu várias participações, o atletismo regressou com mais uma medalha, de prata, por Sisínio Ambriz, nos 110 metros barreiras. Lourenço Rodrigues, nos 3000 metros obstáculos, conseguiu um lugar de finalista (sexto classificado).
No Festival Olímpico da Juventude Europeia, realizado em Maribor (Eslovénia), Portugal conquistou mais uma medalha (bronze, por Pedro Afonso, nos 200 metros) e cinco lugares de finalista: Eduardo Camarate, quinto nos 5000 metros marcha, Denis Hrabar, sexto no decatlo, Lara Costa, sexta nos 3000 metros, Natacha Candé, oitava no heptatlo, e Nuno Cordeiro, oitavo nos 800 metros.
Pista Coberta
A época de Pista Coberta trouxe três medalhas para Portugal nos Campeonatos da Europa disputados em Istambul. Naquela que foi a melhor participação portuguesa de sempre em pista coberta (10.º lugar, com 41 pontos, num total de 33 países pontuados), terminando em sexto lugar no medalheiro (onde chegaram 21 países!), Pedro Pichardo (triplo-salto) e Auriol Dongmo (lançamento do peso) trouxeram a medalha de ouro e os títulos europeus, enquanto Patrícia Mamona alcançou a medalha de bronze no triplo-salto. Mas houve outros resultados de relevo nestes campeonatos, com mais cinco finalistas: Tiago Pereira (triplo-salto) e Jessica Inchude (lançamento do peso) ficaram à beira do pódio, em quarto lugar, enquanto Arialis Martinez (60 metros) foi quinta classificada, Marta Pen Freitas foi sexta classificada nos 1500 metros, e Evelise Veiga foi oitava no salto em comprimento.
Já nos Campeonatos do Mediterrâneo, em sub-23, Portugal alcançou quatro lugares de finalista: Ericsson Tavares (5.º) e Rodrigo Caetano (6.º), nos 400 metros, David Garcia (8.º), nos 800 metros, e Beatriz Andrade (8.ª) nos 60 metros.
Atletismo adaptado fecha o ano com 59 medalhas para Portugal
Durante o ano 2023, o atletismo para pessoas com deficiência voltou a demonstrar o motivo pelo qual é a modalidade rainha do desporto adaptado em Portugal. Para além de ser a modalidade nacional com mais medalhas conquistadas nas várias competições – Campeonatos da Europa, Campeonatos do Mundo, Jogos Paralímpicos e Jogos Surdolímpicos -, terminou este ano com um total de 59 medalhas nas várias participações nas nossas seleções nacionais.
Vejamos as competições mais significativas do atletismo para pessoas com deficiência neste ano.
O auge da seleção nacional foi conquistado em Paris, França, durante os Campeonatos do Mundo WPA, que culminou com a conquista de 4 medalhas (Prata: Carolina Duarte – 400 metros T13; Bronze: Carina Paim – 400 metros T20, Miguel Monteiro – Peso F40 e Sandro Baessa – 1500 metros T20) e a confirmação das primeiras quatro quotas para os Jogos Paralímpicos Paris 2024.
Em Szczecin, na Polónia, foi atingido o ponto mais alto em participações com atletas surdos – nos Campeonatos da Europa de Surdos, os portugueses conseguiram expressar os seus desempenhos, obtendo duas medalhas de prata (Francisco Laranjeira – 5000 e 10 000 metros) e um quarto lugar no salto em comprimento por Hemilton Costa.
Nos Campeonatos do Mundo VIRTUS (atletas com deficiência intelectual), novamente com o palco em França, mas desta vez na cidade de Vichy, Portugal obteve o primeiro lugar coletivo, e 16 medalhas individuais (1 de ouro, 10 de prata e 5 de bronze).
O Campeonato da Europa de Meia Maratona e 10 km VIRTUS (atletas com deficiência intelectual), a última prova de seleções nacionais, que se realizou em Lisboa, teve como principal protagonista o atleta Cristiano Pinto Pereira, que conquistou o título de Campeão da Europa de Meia Maratona, ainda no mesmo evento, mas nos 10 km, Cristiano Silva Pereira sagrou-se vice-campeão da Europa.
No que diz respeito a recordes, Igor Oliveira (classe T20) superou o recorde do mundo dos 100 metros, colocando a marca nos 10s66′ (Braga, Campeonatos de Portugal, 29/07/2023). Ainda no mesmo evento a estafeta 4×100 metros (Carlos Freitas, Igor Oliveira, Sandro Baessa e Lenine Cunha) fixou o recorde de Portugal em 43s97′.