O ponto mais alto do calendário competitivo nacional chega já este fim-de-semana com a realização em Braga, no mítico Estádio 1º de Maio, da 110.ª edição dos Campeonatos de Portugal. A organização da prova é da responsabilidade da Federação Portuguesa de Atletismo, com apoio da Associação de Atletismo de Braga e do Município de Braga.
Apesar de aqui já se terem realizado outros campeonatos nacionais, como os da I Divisão de clubes, em termos de Campeonatos de Portugal esta é apenas a terceira edição realizada em Braga. As anteriores foram em 1992 e 2023 e, nesta última, foram batidos cinco recordes dos campeonatos: por André Prazeres (10,17 segundos), nos 100 metros; Omar Elkhatib (45,71 s), nos 400 metros, Isaac Nader (1m45s32”) nos 800 metros; Lorene Bazolo (11,23 s e 23,06 s), em 100 e 200 metros. Todos estes atletas estão inscritos para estes campeonatos.
Sendo este um momento muito importante para a seleção que poderá ser convocada para representar Portugal nos Mundiais de Tóquio 2025, importa referir quais os atletas que já têm marca de qualificação direta para Tóquio, sendo estes aqueles que todos seguiremos com especial atenção.
Assim, começando pelos femininos, já só esperam a chamada à seleção as atletas Salomé Afonso (3m59s32” aos 1500 metros), Auriol Dongmo (19,26 metros no lançamento do peso), Jessica Inchude (19,21 metros no lançamento do peso) e Liliana Cá (65,35 metros no lançamento do disco). Em masculinos, são eles Isaac Nader (1m43s86” aos 800 metros e 3m29s37” e 1500 metros), José Carlos Pinto (3m31s94” aos 1500 metros) e Nuno Pereira (3m32s16” aos 1500 metros), Pedro Pichardo (17,84 metros no triplo-salto), Emanuel Sousa (67,51 metros no lançamento do disco) e a estafeta 4×400 metros (sétima nos mundiais de estafetas de 2025).
Para além deles há ainda outros a realçar, destacando-se desde logo a recém campeã mundial Universitária do salto em comprimento, Agate de Sousa, que estão dentro das quotas de participação através dos World Rankings, que ficam a aguardar pelo final do período de qualificação (24 de agosto), para receberem o “convite” para participarem nos mundiais.
Para além de Agate, que está colocada na 15.ª posição para uma quota de 36 participantes, estão dentro das quotas as atletas Lorene Bazolo (36ª na quota de 48 participantes nos 100 metros); Mariana Machado (38/42 nos 5000 metros); Fatoumata Diallo (25/40 nos 400 m barreiras); Eliana Bandeira (21/36 no lançamento do peso), Irina Rodrigues (20/36 no lançamento do disco), Vitória Oliveira (42/50 nos 20 km marcha), Inês Mendes (37/50 nos 35 km marcha), Joana Pontes (46/50 nos 35 km marcha).
Entre os atletas masculinos, estão bem colocados nas quotas os atletas Gerson Baldé (14/36 no salto em comprimento), Tiago Luís Pereira (22/36 no triplo-salto), Tsanko Arnaudov (33/36 no lançamento do peso), Leandro Ramos (27/36 no lançamento do dardo) e João Vieira (41/50 nos 35 km)
Também estão dentro das quotas e qualificados (a seleção depende da forma de cada atleta e da decisão da direção técnica nacional) os maratonistas: Susana Santos (51/100), Solange Jesus (62/100) e Salomé Rocha (70/100), em femininos; Samuel Barata (53/100), Rui Pinto (82/100) e Miguel Borges (92/100).
Prova a prova feminina
Ao longo dos próximos dois dias, em diferentes provas, assistiremos a grandes desempenhos dos nossos melhores atletas, alguns deles recordistas nacionais, como Lorene Bazolo, campeã dos 100 metros há 9 anos consecutivos (e tem sete títulos em 200 metros). Nos 400 metros teremos, ao fim de dez anos (uma década de triunfos de Cátia Azevedo), uma nova campeã de Portugal; enquanto nos 800 e 1500 metros, Salomé Afonso tem cinco e três títulos, respetivamente, sendo a principal favorita (entre as inscritas). Nos 5000 metros, Mariana Machado (quatro títulos) é a favorita e, entre as inscritas está Marta Pen Freitas, que apenas duas vezes correu a distância, mas que tem três títulos nacionais de 1500 metros no palmarés. Nas barreiras, Olímpia Barbosa conquistou sete títulos em nove campeonatos nos 100 metros, mas este ano Melissa Sereno está muito forte e pode desafiar a crónica campeã, enquanto na prova mais longa (400 metros), Fatoumata Diallo é a principal favorita e pode alcançar o seu terceiro título consecutivo. Nos 3000 metros obstáculos, ausentes Joana Soares e Laura Taborda (esta por lesão), tudo em aberto para o título.
Nos saltos, mais incertezas. Em altura, apesar de estarem inscritas, as duas últimas campeãs Anabela Neto (com dez títulos) e Ana Leite (um), parecem estar menos fortes que as mais jovens Marta Araújo e Natacha Candé (especialmente esta), claras favoritas. E na vara, face à lesão de Cátia Pereira, Joana Barreto está na “pole position” para o título. No salto em comprimento, a campeã mundial universitária Agate Sousa, tem estado muito consistente e mais efetiva e pode conquistar o seu primeiro título, diante da campeã em título, Evelise Veiga (oito triunfos em nove edições). No triplo-salto, Lucinda Gomes pode vencer pela segunda vez.
Vamos aos lançamentos. No peso, presença de três atletas que podem rumar aos mundiais de Tóquio: Auriol Dongmo (dois títulos) e Jessica Inchude (6) estão com alguma vantagem perante Eliana Bandeira; enquanto no disco, Liliana Cá pode conquistar o seu oitavo título perante Irina Rodrigues, que colecionou 10 títulos! No martelo, Mariana Pestana está mais bem colocada e pode conquistar o seu terceiro triunfo, enquanto no dardo, a “regressada” Cláudia Ferreira vai em busca do oitavo triunfo.
Nas restantes provas, Mariana Bento (finalista nos Mundiais Univrsitários) é a favorita (para um terceiro triunfo) e o mesmo sucede nos 10000 metros marcha, com Vitória Oliveira. As estafetas são uma incógnita, mas as equipas do Sporting partem como favoritas.
Prova a prova masculina
A velocidade será uma incógnita. Nas últimas seis edições houve cinco campeões, três deles, Carlos Nascimento (quatro títulos), André Prazeres e Delvis Santos (um título cada) ainda em competição. Quem somará mais um? Nos 200 metros, Delvis Santos (tricampeão) tem a melhor marca, mas o jovem Pedro Afonso está muito perto e pode impedir um quarto título. Gabriel Maia e Ericsson Tavares, que já baixaram dos 21 segundos, estão à espreita. Os 400 metros podem ser históricos. Apesar de inscrito, Pedro Afonso, que recentemente bateu o recorde de juniores (duas vezes) a baixo de 46 segundos, não deverá correr os 400 metros e assim, ficam para João Coelho (1 título), Omar Elkhatib (2), Ericcsson Tavares, Ricardo dos Santos (6), Rafael Jorge e André Franco, o “tira teimas” para os lugares livres da estafeta de 4×400 metros que estará no mundial de Tóquio.
Os 800 metros e os 1500 metros estão muito condicionados à escolha dos atletas. Em ambas as distâncias, Isaac Nader é favorito. Nos 800 metros venceu uma vez e está inscrito José Carlos Pinto (5 títulos), nos 1500 metros, Isaac venceu cinco vezes e os mais próximos dele são José Carlos Pinto e Nuno Pereira, sem triunfos na distância.
Nas últimas cinco edições, os 5000 metros conheceram cinco campeões e apenas um deles, um ausente, Samuel Barata venceu mais que uma vez (três títulos). Alguém repetirá ou aparece um sexto nome?
As barreiras parecem marcadas para mudanças. Nas barreiras altas (110 m), Abdel Larrinaga (dois títulos) tem mais experiência que os “candidatos” Francisco Marques e Edson Gomes. Está inscrito Sissínio Ambriz, que poderá fazer o seu regresso após paragem prolongada devido a lesão. Nas barreiras baixas (400 m) estão inscritos três atletas que já baixaram dos 50 segundos: Mikael Jesus (três triunfos), Diogo Barrigana e Duarte Fernandes.
E nos 3000 metros obstáculos, Etson Barros, que venceu os últimos quatro campeonatos, tem agora oposição mais forte de Lourenço Rodrigues, medalha de bronze nos europeus sub-23, com recorde nacional do escalão.
Entrando nos saltos, “despachando” logo altura e comprimento, o principal favorito é Gerson Baldé, que tem três títulos no salto vertical e dois no horizontal. No salto com vara, Pedro Buaró (três títulos) é o principal favorito, o mesmo acontecendo no triplo-salto, onde Tiago Luís Pereira coleciona seis triunfos.
No lançamento do peso, Tsanko Arnaudov luta pelo 10º título, e no lançamento do dardo, Leandro Ramos parte para o sexto título. No
martelo, Décio Andrade nunca foi campeão de Portugal, mas este ano é o principal candidato. No lançamento do disco voltam a defrontar-se os últimos dois campeões: Emanuel Sousa (dois títulos) e Edujose Lima (quatro).
No decatlo, se não tiver nenhum percalço como nos Mundiais Universitário (um zero no salto com vara), Edgar Campré (o segundo português a chegar aos 8000 pontos) pode conseguir o seu segundo título, sem esquecer que Guilherme Almeida (campeão em 2024) está em competição. As estafetas são uma incógnita.
Deixamos para o fim os 10000 metros marcha. João Vieira (49 anos!) é o português mais titulado da história. Nas competições ao ar livre já soma 47 títulos (22 só nesta prova em pista), mas esta época já foi “apertado” na pista coberta por Tiago Ramos (campeão de Portugal em 2024) e perdeu com o jovem Eduardo Camarate no nacional de clubes.
Muitos motivos para uma deslocação ao Estádio 1º de Maio em Braga, para assistir aos 110.ºs Campeonatos de Portugal.
Quem não puder assistir no local, pode fazê-lo através do canal de Youtube da FPA (https://www.youtube.com/@FPAtletismotv) ou através das imagens difundidas por A Bola TV.
Informações na página oficial (https://fpatletismo.pt/geral/2025/07/campeonatos-de-portugal-5/), com os resultados (em direto) a serem publicados no portal FPA Competições (https://www.fpacompeticoes.pt/5064/competicao).
Um pedaço de história
Em termos históricos, Georgette Duarte e João Vieira são os atletas mais vezes campeões de Portugal (pista, corta-mato e estrada). A antiga atleta do Belenenses somou 46 títulos nos anos quarenta e cinquenta do século passado, em dez especialidades diferentes (embora contando com as antigas distâncias de 80 e 150 m). Seguem-se-lhes duas lançadoras, Adília Silvério (37 títulos) e Teresa Machado (34). Fernanda Ribeiro, que chegou aos 23 títulos, tem um recorde difícil de repetir: foi campeã com 24 anos de intervalo, entre 1985 (quando se sagrou campeã dos 3000 m com 16 anos) e 2009 (campeã da maratona aos 40 anos)!
No sector masculino, nos três últimos anos, apesar de algumas ausências, por lesão, João Vieira destronou os dois anteriores líderes dos mais campeões, somando agora um total de 47 títulos (sem contar com os de pista coberta!), tendo já ultrapassado Georgette Duarte. Matos Fernandes foi, até 1986, o atleta mais vezes campeão (36), sendo nesse ano igualado por José Carvalho. Este, face ao título do decatlo de 1944 ao longo de muitos anos indevidamente atribuído a Matos Fernandes (tratou-se de um campeonato regional), sempre lamentou não ter sabido a tempo que só lhe faltava uma vitória para se tornar o atleta mais vezes campeão de Portugal!…
Uma curiosidade: Fernando Mamede (20 títulos) e Carlos Lopes (19) aparecem logo a seguir ao top-10.
Estes e outros dados históricos podem ser consultados no Dossier Histórico da competição que divulgamos na página oficial (https://fpatletismo.pt/geral/2025/07/campeonatos-de-portugal-5/).
Foto (arquivo): FPA / Sportmedia