Salomé Afonso, medalha de prata, e Isaac Nader, medalha de bronze, ambos em 1500 metros, deixaram os portugueses ao rubro no Omisport, em Apeldoorn (Países Baixos), na tarde do segundo dia dos Campeonatos Europeus de Pista Coberta. E ainda há que contar como o quarto lugar de Gerson Baldé no salto em comprimento, e o sétimo lugar de Patrícia Silva nos 1500 metros e ainda João Coelho que passou à final dos 400 metros.
Comecemos pela prova de 1500 metros femininos, em que alinharam as duas portuguesas, Salomé Afonso e Patrícia Silva. Numa corrida em que ambas tentaram ser felizes, Salomé Afonso foi mais destemida, imiscuindo-se na “feroz” luta das medalhas logo a partir de metade da prova, sempre bem colocada e a atacar, determinada, conquistando a medalha de prata, em 4m07s66”, atrás da francesa Guillemot, que reeditou o último ouro. Salomé Afonso é a segunda portuguesa de sempre a ganhar uma medalha na distância (a outra foi Carla Sacramento, que foi campeã em 1996) e quebrou um jejum de 29 anos sem medalhas nos 1500 metros femininos.
“Ainda não estou bem em mim”; refere a vice-campeã da Europa. “É um “mix” de, não acredito que foi a medalha de prata, mas ao mesmo tempo acredito, porque foi resultado de um trabalho de muitos meses, até de anos. Há muito tempo que sabia que era possível fazer este resultado e, como disse ontem, pensava se for eu mesma e for muito relaxada pode sair uma coisa muito importante. Acabei por conseguir o que esperava há muito”, afirmou, sempre com um sorriso nos lábios.
E agora espera que se verifique uma teoria, de que só custa a primeira vez. “Sinto que me libertei. O treinador sempre diz que ganhar uma medalha é como passar uma final pela primeira vez, quando conseguimos uma vez, pensamos em replicar e, se possível, melhorar. É com esse pensamento que vamos continuar”, refere a atleta, continuando: “Nós trabalhamos muito, e vemos todos também crescerem. Nós subimos, mas o nível delas também. Já não há aquela sensação de olharmos para o lado e vermos que aquela é melhor, ou eu sou melhor, porque são todas”.
O facto de não ser favorita não lhe deu mais ou menos pressão. “Vim para esta prova a pensar que podia ganhar uma medalha. Sem desrespeito para todas as outras, eu pensava que havia duas candidatas mais prováveis, a Agathe Guillemot, que acabou por vencer, e a Georgia Bell, que são de outro nível, que já conquistaram medalhas e têm essa confiança desse trabalho, que eu ainda não tinha. Mas na verdade eu acreditei muito”, referiu.
Afinando o pensamento para os Mundiais, na China, daqui por duas semanas, Salomé acredita na continuidade do trabalho. “Sei que estou no melhor momento de forma, mas acredito que quando lá chegarmos ainda estarei melhor. O treinador prepara-nos bem para os grandes campeonatos, e estou pronta para corridas táticas ou rápidas e o mundial pode estar ao nosso alcance. Mas, para já, só penso nesta medalha que acabei de conquistar, mas a mentalidade é tentar ganhar mais e melhor”, anota, quando ainda tem um outro desafio em Apeldoorn. “É verdade, vou aos 3000 metros amanhã. Não é por qualquer outra razão que não seja voltar a fazer essa distância, na qual me dei bem na estreia, mas também com o sentido de fazer várias provas, simulando o que encontrarei ao ar livre, nos mundiais”, concluiu.
Na mesma final, Patrícia Silva também tentou ser feliz, ainda arriscou, mas terminou em lugar de finalista, sétima classificada, com a marca de 4m09s97”. No final, assume ter “feito uma época espetacular e só tenho de estar orgulhosa. Hoje “só deu” para um sétimo lugar, que é fantástico. Se me tivessem dito, no início da época, que me estrearia em 1500 metros e seria sétima, não acreditaria”, e, a meio da conversa, afirma que “se calhar também não acreditei ali dentro. Sinto que dei tudo o que tinha nos últimos 200, nos últimos 400 metros, mas agora, aqui, sinto que ficou aquele sabor de que poderia ser mais. Mas estou feliz, pois foi bom estar aqui, entre as melhores, sendo também uma delas”.

Pouco depois, a final dos 1500 metros masculinos, com Isaac Nader a mostrar-se em forma, a correr determinado para conquistar a medalha, trabalhando imenso, terminando em terceiro lugar, com a medalha de bronze. À frente dele, o norueguês Jakob Ingebrigtsen (3.36,56) e o francês Azeddine Habz (3.36,92), com Nader (3.37,10).
Nader é o segundo português de sempre a vencer uma medalha em 1500 metros, depois de Rui Silva, e há 16 anos que Portugal não subia ao pódio na prova. Na zona mista, Nader ainda começou por falar na felicidade de ver Salomé Afonso ganhar uma medalha, “podia ser campeã da Europa, mas foi segunda. Foi bom para ela, e não foi surpresa para nós”, afirmou voltando as atenções para si. “não esperei que a minha primeira medalha internacional tivesse um sabor tão agridoce. Vou desfrutar dela, porque há que desfrutar, porque há pessoas que tentam e não o conseguem e eu consigo. Mas efetivamente, o Jakob Ingebrigtsen é muito difícil de bater, mas se estivesse mais perto talvez fosse possível, mas o segundo lugar era aquele que eu poderia chegar. Hoje eles foram melhores que eu”, afirmou.
“Eu, apesar de não ter conquistado medalhas anteriormente, sabia que poderia fazer, em Glasgow nos mundiais houve três que foram melhores que eu, e nós temos de ultrapassar essas questões, são experiências que se aprendem, tal como as provas internacionais, é algo que nos campeonatos de clubes ou nos campeonatos de Portugal não conseguimos. Aqui, quando vestimos esta camisola o caminho parece mais apertado, mas temos de o fazer. O ano passado havia uma página no Facebook que dizia que o Isaac afirmava sempre que é para a próxima, para a próxima e para a próxima, mas foi agora já consegui”, concluiu.
“Hoje desbloqueei as medalhas e sabia que era uma questão de tempo até conseguir. Vamos dormir contentes, ela mais que eu, porque foi prata”, acabou por referir.
As medalhas dos atletas portugueses serão entregues amanhã à tarde, antes das provas da segunda jornada. A cerimónia dos 1500 metros femininos será às 17h42 (16h42 em Lisboa), e a dos masculinos será às 17h48 (16h48 em Lisboa).

Na final do comprimento, Gerson Baldé ainda saltou 8,07 metros e chegou a estar na luta pelas medalhas, ficando fora do pódio, em quarto lugar, vendo o búlgaro Bozhidar Sarâboyukov saltar 8,13 metros no último ensaio, ultrapassando o italiano Mattia Furlani (8,12 m) e o espanhol Lester Lescay (8,12 m).
“Fiquei à beira do sonho. Foi um pouco frustrante, mas na verdade fiquei com limitações física e nem fiz todos os saltos. Nem sei como saltei mais de oito metros”, referiu. Mesmo quando estava em terceiro lugar, nunca sentiu que a melhor era a sua, “8,07 metros ao terceiro ensaio não dava confiança nenhuma, especialmente quando sabemos que eles saltam bem”, referiu. “Sabia que, se tivesse nas condições que tive na qualificação conseguia a medalha, sem dúvida, mas é o desporto, acontece. Vamos trabalhar para ser melhores”, concluiu.
A abrir a tarde, a passagem de João Coelho à final dos 400 metros. O atleta português cortou a meta em 46,02 segundos, um centésimo mais lento que durante a manhã, mas o que ficou da prova foi uma excelente corrida, a controlar a posição e a lutar pelo acesso à final.
“Foi uma corrida igual, tentei ficar em segundo, mas já não deu”, afirmou o atleta, acrescentando que “as sensações são boas, a final está conseguida. Agora só espero que me calhe uma pista decente, para poder dar tudo e fazer cair o recorde nacional. Se não, acho que foi uma boa prestação chegar à final. Na final, ao contrário da minha anterior prestação, agora estou mais maduro e preparado”.

Fotos FPA / Sportmedia
O dia de amanhã
O terceiro dia de competição é composto de novo por duas jornadas. A presença portuguesa começa de manhã, a partir das 10h20 (9h20 em Lisboa), com a presença de Salomé Afonso nos 3000 metros (8m39s25”, como melhor esta época). A portuguesa corre na segunda meia-final (10h33, 9h33 em Lisboa).
Mais tarde, às12h45 (11h45 em Lisboa), corre-se a primeira meia-final dos 3000 metros, com Miguel Moreira (7m41s56”). A segunda meia-final está marcada para as 12h58 (11h58 em Lisboa) e nela estará Duarte Gomes (7m41s16”). Para todos, o apuramento para a final é feito classificando-se nas seis primeiras posições.
Entre as corridas de 3000 metros decorre a qualificação do lançamento do peso feminino. É necessário alcançar os 18,88 metros para seguir para a final. Portugal tem três atletas em competição. Auriol Dongmo (19,00 metros esta época), bicampeã europeia (2021 e 2023) será a terceira de 18 atletas a lançar. Eliana Bandeira (18,29 m) será a oitava a lançar e Jessica Inchude (19,18 m) será a 11ª a entrar em competição.
Ao meio-dia começará a “maratona” dos 60 metros masculinos. A primeira ronda comporta cinco séries, apurando-se os dois primeiros de cada uma e os dois melhores tempos. Carlos Nascimento (6,64 segundos esta época) estará na segunda corrida e Delvis Santos (6,70 segundos) estará na quinta corrida. As meias-finais dos 60 metros estão marcadas para as 19h10 (18h10) de amanhã e a final está marcada para as 21h40 (20h40 em Lisboa).
Na jornada da tarde, a final do triplo-salto está marcada para as 18h40 (17h40 em Lisboa) e a final dos 400 metros será às 21h10 (20h10 em Lisboa).
Como ver e acompanhar
Relembramos que, em termos de informação, para além da nossa página oficial e das redes sociais, centrada na presença portuguesa, poderá seguir os Campeonatos na página da European Athletics (https://www.european-athletics.com/home/news/where-to-watch-apeldoorn-2025-european-athletics-indoor-championships).
Quanto a transmissão televisiva, ela será assegurada pela RTP, em território nacional, enquanto os portugueses em todo o mundo poderão seguir as provas com língua portuguesa através do canal próprio da EBU (com ligação à RTP) (https://eurovisionsport.com/explore/competition?id=Generic-Schedule-Landing-Page&cId=20250306EAApeldoorn&utm_campaign=Apeldoorn2025&utm_medium=federation&utm_source=Portugese%20Athlteics%20Federation).