A preparação de Patrícia Mamona contada por José Uva

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13 Nov, 2021
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O espaço atmosfera m, que acolhe a Exposição do Centenário da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) até ao próximo dia 20 de novembro, recebeu esta tarde a última Conversa do Centenário. “Dos confinamentos obrigatórios aos recordes de Portugal de Patrícia Mamona” foi o tema da conversa com o treinador José Uva, que orienta a preparação da vice-campeã olímpica do triplo-salto e recordista de Portugal, há 20 anos.

As duas décadas de trabalho em conjunto fazem com que atleta e treinador se conheçam como ninguém, o que, numa altura em que o mundo parou devido à COVID-19, se revelou decisivo. Da altura em que viviam na exceção decretada pelo Governo para os atletas de alta competição, José Uva recordou um treino marcado pela necessidade de adaptação. “A Patrícia teve de treinar na rua, na relva do jardim, na garagem e, claro, a intensidade do treino foi menor”.

No entanto, o técnico não considera que este período deva ser visto apenas pelo seu impacto negativo. “Foi possível recuperar melhor, os treinadores conseguiram trocar experiências e isso foi positivo”, defendeu. Esta visão pela positiva permitiu a José Uva e Patrícia Mamona ultrapassar da melhor forma o período conturbado que ainda haveriam de viver. A atleta testou positivo para COVID-19 e teve 10 dias impedida de treinar com fortes dores musculares.

Depois de recuperada, o retorno à competição ao mais alto nível teimava em não acontecer, já que Patrícia Mamona continuava a apresentar testes inconclusivos, o que a impedia de viajar de avião e a deixou de fora dos meetings que tinha previstos para confirmar a marca de qualificação para os Campeonatos da Europa de Pista Coberta. “No Meeting de Madrid decidimos ir de carro e conseguimos marcar presença na última prova em que poderíamos competir antes dos Campeonatos da Europa e a Patrícia conseguiu confirmar a marca de qualificação [sagrando-se depois campeã europeia]”, contou José Uva.

A partir daqui Patrícia Mamona tornou-se imparável e, de recorde em recorde, chegou aos Jogos Olímpicos. Em Tóquio, a medalha era um sonho, mas não um objetivo, como explicou José Uva: “Desde o dia em que conheci a Patrícia até ao dia em que ganhámos a medalha nos Jogos, o nosso objetivo sempre foi saltar cada vez mais e melhor. Portanto, a medalha é vista por nós como uma consequência e não como um objetivo. Claro que tínhamos o sonho de ganhar uma medalha nos Jogos, mas para isso sabíamos que a Patrícia tinha de se aproximar dos 15 metros, marca que nunca tinha feito e para a qual os treinos não apontavam. Mas fez.”

Naquele dia, aquele salto teve o poder de mudar a vida desta equipa vencedora. “Chegar aos 15 metros era o nosso objetivo de carreira. Agora é chegar aos 15,20 metros, o que lhe dará o estatuto de 10.ª melhor de sempre”, disse José Uva. Confessando que os 15,01 metros obtidos por Patrícia Mamona em Tóquio foram a exceção, porque, como explicou o treinador, o nível dos atletas encontra-se através da média das suas cinco melhores marcas, o alcançar desta marca traz consigo o grande desafio de transformar a exceção em regra.

Para isso, a aposta de José Uva “passa pelo treino baseado na velocidade, que é atualmente o ‘gold standard’ ao nível do treino desta disciplina”. O treinador disse ainda que espera “continuar a conseguir contar com a tecnologia colocada ao seu dispor para, por exemplo, medir a velocidade, mas também com as equipas multidisciplinares da Federação Portuguesa de Atletismo, do Comité Olímpico de Portugal e do Sporting Clube de Portugal. Biomecânicos, fisiologistas, psicólogos, técnicos, todos fizeram a diferença na preparação da Patrícia e de outros atletas”. Estas são as ferramentas que, na perspetiva de José Uva, vão permitir tornar os sonhos de Patrícia Mamona realidade: “A Patrícia quer sempre chegar à lua. O meu trabalho passa por encontrar forma dela lá chegar.”

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