Ainda não eram 23h00 e já a zona de chegadas do Aeroporto da Portela, em Lisboa, estava repleto de pessoas que esperavam a seleção nacional que representou Portugal este fim-de-semana, nos Campeonatos do Mundo de Belgrado, na Sérvia, e que protagonizou uma das melhores prestações de sempre do nosso país nesta competição. Um a um, atletas, treinadores e equipa técnica foram aplaudidos e felicitados, respondendo ainda com emoção às perguntas que não paravam de ser feitas.
Todos queriam saber como foi, o que sentiram e o que têm planeado. A nova campeã do mundo do lançamento do peso de pista coberta, Auriol Dongmo, a primeira atleta portuguesa a passar a marca dos 20 metros na disciplina, fixando o recorde de Portugal em 20,43 metros, ainda se emociona quando recorda este feito histórico. Antes de partir, a atleta do Sporting Clube de Portugal, treinada por Paulo Reis, deixou claro que só tinha um objetivo em mente: “Passar os 20 metros, para chegar às medalhas.” E passou. Trouxe a medalha, a de ouro, e protagonizou um dos momentos mais bonitos do atletismo, aquele em que a mente não deixa o corpo falhar e o objetivo de uma vida de trabalho árduo é atingido. Nesse momento, o objetivo muda, e a campeã do mundo, que dedicou esta vitória ao treinador, ao filho e a todos os que a apoiam, quer “trabalhar, trabalhar, trabalhar e preparar-se para se superar na época de ar livre” que aí vem.
Também Patrícia Mamona, vice-campeã olímpica, que se classificou na sexta posição, com a sua melhor marca nesta temporada, de 14,42 metros, já só pensa na época de ar livre. A atleta do Sporting, treinada por José Uva, disse à chegada que se entusiasmou no início da competição e acabou por se lesionar. “Mas acredito que vou conseguir preparar uma boa época de ar livre e estar no meu melhor”, disse. De facto, como explicou o responsável técnico desta comitiva, Paulo Reis, “o triplo-salto é das disciplinas mais propícias a lesões” e esse risco aumenta quanto mais elevado é o nível dos atletas. Nem o campeão olímpico escapou. Pedro Pichardo saiu destes campeonatos lesionado, mas não sem antes conquistar a prata para Portugal com um salto de 17,46 metros, recorde de Portugal.
Olhando para a prestação da equipa que liderou tecnicamente, Paulo Reis, não tem dúvidas: “De uma forma geral, em quase todas as provas, subimos naquilo que era a nossa posição na start list e em alguns casos muito acima do que era a expetativa. É muito bom verificar que os nossos atletas já não se intimidam a competir a este nível, pelo contrário, atingem patamares de rendimento muito acima do que seria expetável. Depois claro que tivemos as duas medalhas e os dois recordes, a Patrícia Mamona com um sexto lugar e uma melhor marca da temporada. Tivemos também uma melhor marca da temporada e recorde pessoal igualado do Carlos Nascimento. Velocistas e barreiristas praticamente todos a conseguirem passar à ronda seguinte. Quer pelos resultados na pista, quer pelo ambiente que se viveu, esta foi uma participação excelente, o que é muito importante para mostrar às novas gerações, que andam agora a treinar com este sonho, que somos capazes, que conseguimos competir em igualdade com os melhores e, por vezes, vencer. Que no futuro consigamos ter mais atletas e ainda melhores resultados nestes palcos.”